A Gameleira é uma árvore de grande porte. Suas raízes se espalham, formando uma base característica da espécie. É também conhecida como figueira ou “mata pau”, pois se origina como uma parasita, sufocando o hospedeiro com o tempo para se tornar uma árvore autônoma. Também é conhecida como Figueira-grande, figueira-branca, guapoí, figueira brava, guaporé. O leite do seu tronco é usado na medicina caseira para para expulsar vermes e combater a hidropsia. No Brasil, a gameleira substitui o verdadeiro Iroko Africano (Chlorophora excelsa), uma morácea conhecida na África como ero iroko.Tem conotação sagrada na Africa e é muito cultuada no candomblé. Dizem que nunca se retira um pé de gameleira, esteja onde estiver e que não se retira suas folhas depois do meio dia, pois ela passa a pertencer ao Orixá Exu se tornando muito quente. Também se fala que a gameleira é a árvore primordial que foi dada aos homens, e existe desde sempre.
“No começo dos tempos, a primeira árvore plantada foi Iroco. Iroco foi a primeira de todas as árvores, mais antiga que o mogno, o pé de obi e o algodoeiro. Na mais velha das árvores de Iroco, morava seu espírito. E o espírito de Iroco era capaz de muitas mágicas e magias. Iroco assombrava todo mundo, assim se divertia. À noite saía com uma tocha na mão, assustando os caçadores. Quando não tinha o que fazer, brincava com as pedras que guardava nos ocos de seu tronco. Fazia muitas mágicas, para o bem e para o mal”
Em vários terreiros da Brasil encontramos grandes e imponentes árvores Iroko plantadas no espaço sagrado. Deve-se observar que a árvore em si não é a divindade. Para tal é preciso cumprir rituais para que o deus se sacralize na árvore. Após as oferendas e sacrifícios, a árvore deixa de ser um simples vegetal e passa a ser a morada-templo do deus Iroko. Como um local santo, passa a ser paramentado como tal: com laços de panos brancos amarrados em seus galhos e troncos. Junto a suas raízes expostas, são colocadas oferendas: alimentos, quartinhas (recipientes com água) e sacrifícios votivos são regularmente realizados. Roger Bastide em duas obras distintas – Imagens do Nordeste Místico em Branco e Preto e em Candomblé da Bahia – faz uma importante alusão ao interdito de tocar em uma árvore Iròkò consagrada. Um dos mitos relata uma terrível punição sofrida por uma mulher que teria tocado o Iròkò sem ter cumprido o período de abstinência sexual antes de fazer as oferendas ao deus (foi engolida pelo tronco da árvore).
“Alguns terreiros possuem igualmente uma árvore sagrada que é vestida, enfeitada de fitas, coberta de tecidos, rodeada por um círculo mágico – a gameleira que os ‘nagôs’ chamam de Iroko e os ‘gêges’ de Loko; se cortasse um ramo dessa árvore brotaria sangue”[8]
Pierre Verger expôs no seu memorial livro Notas sobre o Culto aos Orixás e Voduns, 1999) uma série de textos sobre a divindade Iroko ou Loko, entre os jejes. Entre estes textos se destaca o de Nina Rodriguês e de Melville Herskovits.
Diz Rodrigues que:
A fitolatria africana na Bahia parece ter duplo sentido. A árvore pode ser um verdadeiro fetiche animado ou, ao contrário, mal representa a morada ou altar de um santo. A gameleira branca (Chlorofora excelsa), árvore abundante neste Estado, é o tipo da planta deus. Com o nome de Iroco é objeto de um culto fervoroso. Mais de uma mãe de terreiro exortou-me a jamais permitir que se abatesse uma gameleira em um terreiro de minha propriedade, pois tal sacrilégio foi causa de grandes infortúnios para muita gente.
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